Resenha de "Bad Tidings"
A Máquina do RPG adora estreias! Desta vez é a de Orlando Moreira nas suas lides de publicação de cenários de TTRPG, nomeadamente Bad Tidings para Call of Cthulhu (CoC), o derradeiro jogo de horror cósmico! O cenário passa-se nos arredores de Aveiro em 1937 e encontra-se digitalmente publicado sob a licença da The Miskatonic Repository.
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A eficaz capa de Bad Tidings tem todas as vibes certas dignas duma capa de Call of Cthulhu! |
Tanto a capa quanto o layout de Bad Tidings ficaram a cargo do veterano Alex Guillotte. A capa é obscura, misteriosa e eficaz no tema do cenário em si, ainda que pouco original. Não desfazendo da sua execução exímia, mas é a típica capa que poderia aparecer em praticamente qualquer outro cenário de CoC. Já o layout é perfeitamente coerente com toda a linha gráfica que a 7ª edição de CoC nos habituou, fazendo-nos acreditar que se se tratasse dum produto físico quase passaria por algo oficial. Quase. Atendendo que se trata de um lançamento indie, é um esforço louvável todo o investimento neste pequeno suplemento para que se aproxime ao máximo do (elevado) padrão que é a linha atual de CoC.
Sem revelar a trama do cenário, posso dizer que Vilar do Lameiro é o local da mesma. Está descrita com tanto detalhe e perpassa tantas memórias afetivas que cheguei a pensar tratar-se de um local de infância conhecido do autor (ainda que o documento em si mencione ser um local fictício). Há logicamente uma reutilização de conhecimento de local sob outro nome para permitir toda uma criação não espartilhada por limites históricos e sem ofender susceptibilidades. Nesse sentido, para o Keeper que não apresse o cenário e permita a imersão no seu ambiente, Bad Tidings pode ser francamente recompensador no seu exotismo do litoral português do antigamente.
O melhor
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A coluna da direita resume toda a aventura. O desfoque serve para não dar spoiler, mas permite ainda assim compreender a intenção do autor. |
As fotografias são uma combinação de originais do autor com algumas Creative Commons, outras de arquivos antigos, e foram devidamente tratadas para se conjugarem visualmente umas com as outras. Há portanto uma intencional redução do chroma de algumas. Belo detalhe.
Há uma adenda que vem num ficheiro à parte que complementa um possível "tesouro" do cenário. Não vou contudo aqui desvendar qual é, mas vale a pena referir esse cuidado do autor.
O pior
Ironicamente esta capa tão boa acaba sendo um problema quando em contraponto com a arte interior. O próprio autor corajosamente ilustrou os rostos de todas as personagens e fê-lo num estilo singular (reminiscente dum Blake & Mortimer que a Máquina tão bem aprecia!) mas que nos relembra constantemente que estamos a ver uma publicação da The Miskatonic Repository e não da própria Chaosium. O que em si não tem mal nenhum, mas no meio duma execução escrita tão bem feita, este contraste estilístico ao nível da arte com a capa acaba por ser o seu (único) ponto fraco. Não nos podemos esquecer que estamos perante um produto indie, que não disfruta dos mesmos recursos que um projeto oficial a tempo inteiro. Obviamente que a crítica não é à arte em si e esta em nada afeta a experiência do cenário. Ainda assim, esse contraste está lá, quer tenhamos a compreensão para o mesmo, quer não.
Esperemos que um dia a Chaosium possa compilar Bad Tidings num suplemento oficial e dar-lhe o merecido tratamento.
O veredicto
Pros
- Setting cheio de caráter, originalidade e uma bonita homeagem a um Portugal litoral cada vez mais raro;
- Fotografias interiores conferem-lhe uma breve aura documentária apelativa;
- A adenda que acompanha o documento do cenário (mas que não revelarei do que se trata, hehe);
- Dá vontade de chamar 4 amigos para jogar, de tão fácil que parece de mestrar.
Cons
- O contraste estilístico entre a arte da capa e a interior.
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