Resenha do "Players Guide" de Vampire: The Masquerade

Parece irónico eu desancar mais uma vez em Vampire: The Masquerade 5e (V5), um jogo que não só adoro como aparentemente adoro odiar.

Talvez seja um problema meu, pela exposição injusta a que me submeti com jogos como Vampiro • Sozinho na Escuridão, Cidade Obscura, Dracurouge: Knights of the Everdark, Night's Black Agents, Thousand Year Old Vampire ou Undying (se o(a) leitor(a) estiver interessado(a) em jogar qualquer um deles, é só falar com A Máquina). São tudo jogos acerca de ou que contêm vampiros e qualquer um deles mais capaz que Vampire: The Masquerade (VtM). Ironicamente, todos juntos não se comparam à popularidade ou apelo deste último.

Se tenho alguma crítica a fazer a V5 não é certamente do quanto se desviou do original, mas sim do quanto se poderia ter desviado ainda mais, quer temática, quer mecanicamente. O Mundo das Trevas (e o mundo do RPG) teriam ficado lugares mais interessantes e ricos com um V5 ainda mais audaz e revolucionário do que aquele que fãs mais conservadores e ferrenhos dos antigos VtM já abominam.

Também não vou entrar na guerra do "ah e tal, o antigo V1/V2/V3Rev/V20 é que era bom" nem do "o V5 é que é bom, o antigo é para boomers". Se por um lado entendo a agilidade, simplificação e atualização de V5, por outro entendo e aprecio a pureza e visão transgressora do original. Ambos têm o seu valor e -goste-se ou não- todas as edições de VtM estão aí para lavar e durar...

Há contudo coisas geniais na última edição (V5), mas o Players Guide não é uma delas.

Comecemos pela capa.

No seguimento de toda a linha V5, o Players Guide tem como capa uma composição gráfica baseada em fotomontagem. Poderá não ser o chá de toda a gente (e na altura que escrevo, só tenho ainda a versão PDF), mas além de me parecer coerente com o corebook de V5, desconfio que ficará muito bem na estante a fazer-lhe companhia. Não sendo uma capa brilhante nem tampouco à altura de outras da linha, não é também nenhuma vergonha.

Basicamente o livro de 250 páginas custa 53€ e consiste numa re-organização que é bem-vinda e o seu (muito) pouco conteúdo novo também. Se por um lado, o livro é uma coletânea de informação que anteriormente estava espalhada em cinco outros livros (Anarch, Camarilla, Chicago By Night, Cults of the Blood Gods e Companion), por outro é um livro com sugestões, ideias e alguma clarificação.

E em todas essas frentes é medíocre e pouco ambicioso.

É bom. Mas podia ser ótimo.

Players Guide compila apenas os clãs que não estão incluídos no corebook, ainda que tenha opções (ver à frente) para todos eles. Ou seja, se um jogador quiser ter toda a informação sobre como criar qualquer personagem em V5 não o conseguirá num só livro. Terá sempre que ter o corebook e o Players Guide.

Era suposto ser um livro para os jogadores? Então, compilação por compilação, preferia que tivessem incluído todos os clãs (14), mais os castoffs Ghoul, Mortal, Caittif e Thin-Blood (4); dando ao jogador todas as 18 opções num único livro exclusivamente construído para o efeito. E assim seria um livro que qualquer Storyteller poderia recomendar aos jogadores “comprem, não precisam de mais nada para começar a jogar V5”. 

Desta forma, estamos a falar de uma compilação incompleta. Em verdade não é honesto recomendar a compra do livro aos jogadores sabendo que não só não tem todas as opções, como as que tem são as mais exóticas (e talvez menos prováveis) também. O jogador que quiser criar o seu Toreador, Nosferatu ou Brujah clássicos, ficará sempre melhor servido com o corebook.

Pré-encomendei o físico, não só para conseguir o PDF gratuitamente, mas talvez em parte por colecionismo. É um excelente livro-companheiro para o corebook, mas parece-me excessivo que o jogador tenha que comprar dois livros para saber todas as suas opções.

O melhor

Gostei da organização. Há umas belas tabelas que resumem e condensam as informações mais relevantes na hora de escolher o clã do Kindred que pretendes criar.

E os novos Banes (maldições)! Podes agora escolher um Bane em alternativa ao padrão. Ou seja, sempre que crias um Kindred, escolhes um Bane entre os dois que estão à disposição do teu clã! Os novos Banes são geniais! Uma pérola no meio do livro!

Outra inovação é a criação instantânea de vampiros. Basicamente é um sistema alternativo de criação por camadas: Play Style (Estilo de Jogo), Motivation (Motivação) e Embrace (Abraço). Este último pode ser decidido mediante uma tirada de carta de Tarot!

Uma das minhas coisas favoritas é esta jeitosa tabela de Boons (Bençãos) e Dívidas!

E aqui temos o Players Guide no seu melhor.

O pior

Solo roleplay?! Porque se deram ao trabalho?! Nem sequer tem um sistema para isso. Nenhum apoio mecânico. A ideia em si é boa (ainda que não inovadora), mas qualquer menção desta sem nenhuma solução é completamente vazia de significado. Com tanto material de fã publicado no Storytellers Vault para o efeito, porque a editora Renegade não incorporou algumas das ideias? Se não tinha real intenção de o fazer, mais valia não o referirem.

Há também o tesourinho deprimente do TikTok Style. Idem. O Players Guide apresenta a ideia, aplaude toda e qualquer iniciativa para o efeito, mas sem apresentar qualquer sugestão de implementação mecânica. Fica a sensação de que a Renegade quis parecer trendy e avant-garde mas sem real substância. Tem de estar ali. Mas para quê?!

O veredicto

Pros

• Excelente organização. Toda a compilação existente permite a consulta de clãs outrora espalhados em cinco livros;
• As tabelas facilitam a leitura rápida da visão geral dos clãs;
• Banes, Boons e Dívidas explicados de forma elegante;
• A arte interior nova acrescenta sempre um valor intrínseco ao novo livro.

Cons

• Pouco ambicioso e incompleto na sua proposta;
• Várias das sugestões de jogo acabam sendo mãos cheias de nada, pela ausência de suporte mecânico;
• A capa não deslumbra;
• 53€ é demasiado caro para um livro com tão pouco conteúdo novo.